Calma, não se assustem com o título ! Verbos defectivos espantam tanto quanto um alien, mas a verdade é que o conceito é bem tranquilo.
Algumas pessoas me pediram, em comentários no blog (meu caro amigo do Rio, Jorge Pakkii) e scraps no orkut, que eu postasse sobre a questão do
"te" e do
"lhe". Vamos lá.
Tudo gira em torno da regência do verbo em questão.
Regência é aquilo que determina se o verbo pede preposição ou não. Eu sei que ainda está grego, então nada como um exemplo para ilustrar melhor a coisa : vamos pegar o verbo "ajudar" e o verbo "ver". Ambos são transitivos diretos, ou seja,
quem ajuda ajuda alguém e quem vê vê alguma coisa (ou alguém também, tanto faz). O verbo "obedecer", por exemplo, é transitivo indireto, isto é, quem obedece obedece
a alguém. Mais um exemplo ? Ok, tem o verbo "habituar", ou seja, quem se habitua se habitua
a fazer alguma coisa.
A.
O artigo
"a" funciona como preposição. Ninguém "obedece alguém"; obedecemos
a alguém, assim como
"ajudamos alguém", e não "ajudamos a alguém". Estamos
"vendo alguma coisa", e não "vendo a alguma coisa". Estamos habituados
a jogar videogame, e não habituados jogar videogame. Entenderam a questão da regência ? Só é chatinha, não muito difícil. Tem coisa muito pior.
Agora que estamos situados, vamos retomar a questão do "te" e do "lhe". Se quem ajuda ajuda alguém, então todos devemos ajudá
-lo (= ajudar ele ou você, logo, ajudá-lo ! Não "ajudar-lhe").
Logo, se quem obedece obedece
a alguém, então obedecemos
aos nossos pais, e não só obedecemos os nossos pais.
Aos. Devemos, pois, obedecer
-lhes. Sim, obedecer
a eles, obedecer
aos nossos pais, e não obedecê-los. Mas sim obedecer
-lhes.
Mais exemplos : "Eu
o encontrei perdido no mar" (quem encontra encontra alguém, e não a alguém) ; "Não
o vejo há anos" (quem vê vê alguma coisa ou alguém, e não a alguma coisa ou a alguém) ; "Olha, preciso
lhe dizer que menti" (quem diz diz
a alguém, diz alguma coisa
a alguém, por isso usamos o
"lhe"! Preposição "a", use "lhe"; não há preposição, não há "lhe").
E as formas "eu
te amo", "eu
te adoro", "eu
te disse" ou "eu quero
te dar um Playstation 3" ? Estão erradas ?
Não, desde que o tratamento esteja na 2ª pessoa, ou seja, TU ! Como nem todo mundo é carioca,
se o tratamento for em 3ª pessoa (VOCÊ!), aí sim devemos dizer "eu
o amo", "eu
o adoro", "eu
lhe disse", "eu quero
lhe dar um Playstation 3" etc. E por que raios você colocou o "lhe" nas duas últimas frases aí no exemplo ? Oras, porque quem diz diz
a alguém, e quem quer dar um Playstation 3 quer dar um Playstation 3
a alguém. Lembraram ?
A forma "eu lhe amo" está errada. "Eu lhe adoro" também. O certo é "eu
o amo" e "eu
o adoro", assim como "eu
a amo" e "eu
a adoro". Tanto faz. Achou esquisito, cafona, feio ? Então simplesmente diga
"eu amo você" ou
"eu adoro você". Pronto ! Certíssimo !
Mudando de pato pra ganso, a questão dos verbos defectivos é bem rápida.
São verbos que não têm a 1ª pessoa do singular do presente. O verbo "colorir", por exemplo. Qual o certo : "eu colóro" ou "eu colôro" ?
Nenhum dos dois. Não existe a 1ª pessoa do singular para este verbo. Mas lembrem-se :
é só no presente. No passado você pode dizer normalmente : "eu colori". Atenção para a 1ª pessoa do futuro. Não está errado dizer "eu colorirei", mas evite. Esse é esquisito mesmo, é um termo em desuso.
Prefira "eu vou colorir" ou "irei colorir". É melhor.Outro exemplo é o verbo "demolir". Ninguém diz "eu demôlo". Haha, é até engraçado. Também é outro verbo defectivo. "Eu demoli" está ok também. "Eu demolirei", assim como "eu colorirei", não está errado, mas igualmente esquisito. Evite. É melhor dizer
"eu vou demolir" ou "irei demolir".
Ué, e como faço para dizer esses verbos no presente ? E se eu quiser contar para um amigo que estou colorindo naquele momento ? Simples, diga exatamente isso.
"Eu estou colorindo". Pronto. Todo mundo entendeu.
"Eu estou demolindo". Certíssimo. Ambos estão no presente e na 1ª pessoa do singular. Voalá ! Este é um dos raros casos em que o gerúndio vem a favor.
Téinkiu !
Abrátzo